sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Legalização do Casamento entre Gay`s.

O Governo aprovou no passado dia 17 de Dezembro, em Conselho de Ministros, uma proposta de lei que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas interditando a adopção a casais homossexuais. Uma "meia-lei" que embora incompleta, social e moralmente defecitária, representa um tremendo avanço no reconhecimento da igualdade entre pessoas e géneros!! Afinal o que deveria importar mesmo eram os verdadeiros sentimentos e não os falsos moralismos!

Faço votos que agora o Presidente da Républica, também ele, acabe por promolgar esta lei, que termine de vez com a hipocrisia reinante em todos os quadrantes da sociedade portuguesa e que permita a cada qual viver a sua vida como bem entender!



Toino/09

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cemitério da Esperança de Faro – História e evolução


O Cemitério Público de Faro foi construído num local ermo, num espaldão (anteparo de uma fortificação), paredes-meias com um antigo paiol do exército. Pensado para uma das extremidades da cidade, situou-se entre o Alto da Esperança e a Atalaia do Alto de Rodes, projectado minuciosamente entre as freguesias de S. Pedro e da Sé.
Começou a ser construído a partir dos finais de 1854, na mesma altura em que se iniciaram em simultâneo as obras de requalificação e beneficiação do adro da Igreja da Esperança*, obras essas a cargo do oficial de pedreiro Francisco José de Cintra. Esta requalificação teve o claro objectivo de que este fosse o cemitério público provisório da cidade, enquanto o anterior ainda não estivesse pronto.
O novo Cemitério da Esperança começa então a ser construído nos finais de 1854 com a aplanagem de um morro ai existente pelo António Thomas. Existe mesmo um documento que atesta um pagamento a este trabalhador, por este surribar (aplanar) um morro de terra que existia no local aonde se edificou este novo cemitério. A sua construção dura aproximadamente até aos finais de 1861 sobre o comendo do mestre pedreiro João António da Silva.
O seu pórtico é projectado em 1860 pelo mestre canteiro António dos Santos da Fonseca, segundo registo nos livros de lançamento de receita e despesa da autarquia farense. Em 1861 existe também o registo de um pagamento de cantaria e ladrilho para a capella do cemitério público.
Este cemitério terá sido terminado em 1864, segundo uma placa colocada no próprio pórtico e a qual anuncia que “A Câmara Municipal de Faro o fez construir em 1864”.
Esta placa vem entretanto criar algumas incertezas em relação ao efectivo término do cemitério, na medida em que, segundo os registos dos livros de lançamento de receita e despesa da autarquia, é durante o ano de 1861 que se registam as ultimas despesas com a construção do cemitério, o que nos induz, certamente em erro, de que o seu fim terá sido neste mesmo ano.
No entanto, se atendermos à verdade na placa e ao suposto tempo que demoram a construir este tipo de construção, isto leva-nos a concluir que os dois dos seus “lugares” mais marcantes, a sua capela e o seu pórtico, terão sido, efectivamente, construídos durante últimos 3/4 anos da obra (1861-1864).
Um dos aspectos que terá precipitado a construção de um novo cemitério público terá, também, sido a necessidade de enterrar o crescente número de vítimas da cólera, resultantes da epidemia de 1853/54 e de 1855/56 em Faro. Existe mesmo um registo (parcial) do número de vítimas, que indica o seu enterramento no novo cemitério (ainda em construção) possivelmente em valas comuns, e numas vallas do Moinho de Vento.
O cemitério foi, na sua construção original, constituído por quatro talhões, separados longitudinalmente por uma rua relativamente larga face às ruas horizontais. Faziam também parte integrante desta construção a capela e o pórtico, tudo cercado por um muro de cerca de 3.50m de altura.
Foi nos primeiros tempos da sua utilização destinado a campas rasas. Mas com o passar do tempo e o gradual abandono dos enterramentos nas diversas igrejas da cidade, ao mesmo tempo que ocorria uma crescente aceitação da utilização deste, principalmente pelas famílias mais abastadas, e pela gradual procura da melhor localização, geralmente o mais perto possível da capela e/ou das ruas principais. Isto levou inevitavelmente a uma especulação dos espaços, criando assim uma construção mais diversificada, e, como no próprio espaço urbano, criou zonas de classes mais ou menos diferenciadas, mas sempre intimamente próximas.
Este cemitério não terá sofrido significativas alterações ou ampliações até à segunda metade do século XX. A sua envolvente e talvez mesmo o seu interior só terão sido calcetados pela primeira vez em 1935, segundo marcação na própria calçada frente ao pórtico.
Em 1995 fazem-se importantes obras de requalificação e ampliação do cemitério. O arquitecto José Brito, director do G.A.T. foi um dos responsáveis pelas obras do cemitério, assim como simultaneamente, pelas obras de requalificação do adro da Igreja da Esperança bem como do espaço entre os dois locais anteriormente referidos. Foi nestas obras que foi descoberto um bocado da Cerca Seiscentista, actualmente destacada. Nestas obras o arquitecto teve também a sensibilidade de perceber a real importância do cemitério e a sua relação entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos. Anteriormente a estrada passava junto ao portão e o próprio cemitério não tinha qualquer Hall de Recepção, como muitos cemitérios ainda hoje os possuem, nomeadamente o cemitério de S. Brás de Alportel. Desconhece-se se este facto se deve à enorme pressão construtiva dentro do cemitério ou se resultou mesmo de uma falha de projecto, de um projecto não muito importante na altura. Em parte, devido ao cemitério ter sido inicialmente construído contra vontade das populações e para, principalmente, permitir um grande número se sepultamentos em tempos de epidemias.
Aquando da sua construção, o cemitério foi certamente pensado para receber um grande número de enterramentos. Mas numa altura em que as contestações religiosas e civis a estes novos locais de inumação, a sua construção não foi tida como uma obra de relevante importância para a cidade, atendendo comparativamente, por exemplo, às construções de Fabri anos antes. Por isto, a sua construção não obedeceu a qualquer programa arquitectónico específico, foi um trabalho quase amador, encarregue a um mestre pedreiro sendo apenas o seu pórtico e a sua capela, que tiveram alguma atenção no seu traçar. Mas também estes edifícios foram encarregues a um mestre canteiro e não a um grande arquitecto.
À semelhança da arquitectura civil praticada na cidade até meados do séc. XX, estas obras poderão simplesmente ser o resultado de um saber empírico adquirido em estaleiros regionais, por um mestre canteiro, educado pelo tempo e pelo trabalho, influenciado certamente pelas obras principais do neoclassicismo “fabriciano” existentes na cidade, nomeadamente do Arco da Vila, da Igreja e Hospital da Misericórdia e Governo Civil. No que se refere explicitamente ao pórtico e à fachada da capela do cemitério, as suas semelhanças formais com a fachada da antiga Igreja da Madalena são bastantes evidentes.
Ao cemitério o poderemos caracterizar como sendo quase de uma arquitectura vernacular e miniatural – no sentido do seu quase despojo de elementos decorativos relevantes – com clara influência do próprio cemitério de Vila Real de Santo António, o primeiro cemitério civil construído em Portugal (1776) e talvez mesmo da própria Europa. A sua proximidade a Faro numa altura em que não existia outro qualquer equipamento do género em que a criação deste se apoia-se, terá sido o cemitério de Vila Real a servi-lhe como modelo construtivo, não de uma forma efectiva e integral pois já os Decreto-lei de 21 de Setembro e 8 de Outubro de 1835 pormenorizavam em termos gerais as dimensões e especificidades práticas para a sua construção, mas mais ao nível da própria simbologia da espacialidade (divisão entre o terreno sacro, capela, e o espaço para as diversas formas de inumação), assim como pela forma do seu traçado recto e depurado, muito ao estilo do traço corrido e austero com que Alberto Luís Pereira, projecta o cemitério de Vila Real de Santo António.
Não se deverá também esquecer o facto da própria construção de Vila Real de Santo António, assim como a do seu cemitério, serem construções tipicamente pombalinas, de traço simplista e influência da arquitectura militar. Daí o traçado do seu cemitério ser simples e funcional sem a adopção dos artificialismos arquitecto-decorativos de outros grandes cemitérios europeus oitocentistas. O que no caso do cemitério de Faro, ao ser, de certo modo, baseado na tipologia do anterior, além de não ser uma construção de grande significado na altura, ter-se-lhe-á dedicado mais atenção ao aspecto funcional (capacidade de inumação) que ao simbólico ou decorativo.
Penso isto sem o apoio de qualquer documento ou escrito que o ateste, unicamente recorrendo à análise formal do pórtico, traçado pelo mestre canteiro Francisco dos Santos da Fonseca. Assim como nas diversas obras “fabricianas”, que anteriormente referi, e que este mestre canteiro, para descrever o risco do dito pórtico terá claramente sido influênciado, nomeadamente ao nível da simetria e pela clara e efectiva divisão de algumas das fachadas pelo recurso às pilastras.
Sou da opinião que mesmo o cemitério não sendo aparentemente uma obra de grande importância o seu autor tentou criar uma imagem o mais cerca possível, quer das grandes obras de programa existentes na cidade, quer inseri-la dentro de uma forma neo-classicista, gosto tão em voga na cidade daquela altura.
Assim, a construção do cemitério público de Faro faz-se unicamente por obrigação e necessidade, face ao aumento da mortandade pelas epidemias e subsequente lotação dos cemitérios religiosos disponíveis, mais do que por ser uma obra plenamente planeada e querida do ponto de vista artístico ou social. Este relativo desinteresse pela sua construção prende-se também ao facto de as classes mais abastadas da cidade ainda se fazerem enterrar nos cemitérios das igrejas. Por exemplo, o Cemitério da Ordem 3ª do Carmo de Faro teve enterramentos até meados do século XX, segundo registos das suas próprias campas (1905/6).


Toino/09



*Com origem no séc. XV/XVI, foi reconstruída no séc. XVIII. Outrora situada nos arrabaldes da cidade, foi fundada por João Amado, cavaleiro e criado do Bispo do Algarve, D. João Camelo Madureira (1486-1501), para receber os seus restos mortais e da respectiva família. No séc. XVII a ermida foi integrada dentro da Cerca Seiscentista.
Foi, no entanto, nos princípios do seguinte que se assistiu a profundas renovações, realizadas pela confraria que entretanto aí se instituiu. O terramoto de 1755 originou a construção da capela-mor, destacando-se os trabalhos de massa no domo e no campanário com decoração "rococó". Em anexo, funcionou uma gafaria (hospital de leprosos), de que não resta na actualidade quaisquer vestígios.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Portugal e o seu património móvel


Duas importantes peças indo-portuguesas, datadas do século XVII, estão prestes a deixar o nosso país e a serem vendidas para os EUA.
Únicas em Portugal e de grande valor para a História da Arte Portuguesa, as peças em questão, um paramenteiro e um retábulo, poderão deixar o país se este não exercer o seu direito de preferência sobre a sua venda, nomeadamente o paramenteiro para um museu americano e o retábulo para uma colecção particular. A sua saída de Portugal representa uma enorme perda para o património artístico/móvel português.
O paramenteiro, de quatro metros, foi feito pelos carpinteiros reinóis (europeus que levaram a arte sacra cristã para a Índia) Diogo Moniz e Manuel Rodrigues, responsáveis por toda a marcenaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça, no antigo Convento de Santo Agostinho, na Velha Goa. O convento de Santo Agostinho foi construído em 1602, tornando-se um dos maiores, a ser construído, e dos mais importantes. Após a expulsão das ordens religiosas de Goa, foi abandonado em 1833, acabando este por ruir.
O retábulo terá pertencido a um dos altares colaterais do altar-mor da mesma igreja. Esta peça, goesa, data do tempo de D. Aleixo de Menezes e foi executada pelo mestre Babuxaia, artista canarim (natural da antiga Índia Portuguesa) muito activo e respeitado na Goa daquele tempo, e dourado por António Costa.Muito deste património móvel português, na sua esmagadora maioria religioso, teve o seu principal impulso económico nos descobrimentos e a sua primordial função a evangelização dos novos mundos e difusão da fé cristã, encontra-se hoje, infelizmente, espalhado pelo mundo sem que Portugal e os portugueses algo façam para o tentar trazer ao seu país e os devolvam, novamente, à sua pátria e os tornem parte da efectiva história de Portugal e dos portugueses



Toni/09